sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Veracidade - Isabella de Andrade



Isabella de Andrade, livro Veracidade

Autora do livro Veracidade (Patuá, 2015), Isabella de Andrade é jornalista graduada pela Universidade de Brasília (UnB) e graduanda em Artes Cênicas no mesmo local. Trabalha atualmente como repórter de cultura do jornal Correio Braziliense e já trabalhou como arte-educadora no CCBB. Acredita firmemente no poder transformador e enriquecedor da arte na vida e no desenvolvimento de cada indivíduo. Estuda as possibilidades do jornalismo literário, da literatura, da poesia, da dramaturgia e uma possível convivência harmônica entre eles. É autora e produtora do projeto de arte e cultura www.ociclorama.com. Brasiliense apaixonada pelo céu da capital e pelo modo como as palavras nos possibilitam viver várias vidas. 
Veracidade foi escrito em prosa poética, buscando um caminho entre o romance e a poesia. As cartas escritas e recebidas pela personagem Clarissa podem ser lidas e compreendidas separadamente ou conectadas pela mesma linha do tempo. No livro estão refletidas as percepções e modificações que acontecem ao longo de diferentes fases possíveis ao experimentarmos o amor. Os próximos projetos literários já estão a caminho.



Trecho do livro Veracidade
Quando todo final é uma espécie de fome por recomeço, todo início já carrega algo que se encaminha para o fim e o silêncio dos olhos é o começo encerrado pela palavra.

Você de dia, Clarissa, seus olhos preguiçosos,
cheios de vontade de me provocar.
Você nas tardes, aquele riso cansado,
e sua pele que me abraça até sufocar.
Você de noite, Clarissa, aquele respiro calmo,
uns olhos mansos de quem carregou meu sossego
e nem se lembrou de me avisar.

A gente tenta preencher os corpos dessa fome de mundo, mas não existem fatos suficientes para cobrir a quantidade de espaços que se criam ao retirar de seu posto fixo uma profunda sensação. O espaço arde inicialmente, não aprendemos lá muito bem a lidar com vazios. O vento quente da cidade bate por dentro e espalha os últimos pedaços de carne que restavam. E assim, o vento frio e desaforado a céu aberto pode, enfim, entrar e derrubar, sem nenhum princípio, toda e qualquer antiga certeza. Faz-se silêncio. Acompanhado do firme barulho alvoroçado por toda a gente ao redor. Retoma-se o espaço, não como ponto preenchido, mas como firme vazio impenetrável por toda verdade controversa. Formam-se as primeiras palavras, trazidas pelo frescor das novas texturas e sensações. A palavra nova, assim como as primeiras sensações, tem um sabor tão forte que coloca as mais secas línguas a salivarem em cada pequeno pedaço de degustação. Entendido o vazio do espaço, formam-se raízes, mais firmes que qualquer velha e rasa sensação. O vento passa novamente, soprando por dentro, e enfim, há lugar para o suspiro assobiado. O tempo faz música a quem lhe reconhece.



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